quarta-feira, 31 de março de 2010

Entrevista concedida ao "Grito de Ana"

O Projeto Mulher Viva (http://www.mulherviva.com/) é uma esperança para mulheres que são violentadas dentro das igrejas cristãs e que são escravas da vergonha, da dor, da ignorância, da humilhação e do medo. A violência física, emocional, psicológica e moral as vezes são cometidas por aqueles que pregam a mensagem do Evangelho de Cristo que, em momento algum, defende a opressão do homem sobre a mulher e sim o amor do marido pela esposa ao ponto de sacrificar a própria vida. Que as palavras dessa ativista social pelo fim de toda forma de violência contra a mulher inspire mulheres e homens a se juntarem por essa causa.


1 - Quem é Naiá Duarte (suas referências) e há quanto tempo você luta pelo fim da violência contra a mulher?

Naiá Duarte: Sou santista, formada em Direito e História com especializações na área de educação e filosofia, casada e mãe de 2 filhos. Luto pelas causas sociais há 10 anos e especificamente contra violência há 3 anos.

2 - O que te levou a militar pelas mulheres vítimas de violência?

Naiá Duarte: Observando as mulheres dentro da igreja. Como uma mulher liberta em Jesus de Nazaré pode se deixar escravizar por textos fora do contexto como Efésios 5: 22 daí foi um pulo ao constatar a violência no âmbito eclesiástico (física, psicológica, patrimonial).

3 - Aconteceu algum fato específico que te levou a dedicar sua vida a essa causa?

Naiá Duarte: Sim, quando compreendi que algumas mulheres sofrem violência por não saberem ou por serem influenciadas por textos fora do contexto em um “púlpito viciado” dominador e machista eu contatei meu amigo Pr. Ariovaldo Ramos e pedi sua orientação como poderíamos através da Palavra Sagrada minorar o sofrimento de mulheres que sofrem violência dentro e fora da igreja.

4 - O que te motivou a abordar o tema no contexto das mulheres cristãs? Há violência dentro das igrejas evangélicas?

Naiá Duarte: É triste falar, mas existe e muito. Vou citar um exemplo de uma pastora:

“Naiá, o que eu faço? Meu marido é pastor e em casa me bate e me humilha. Eu disse:

Como na sua igreja existe um pastor presidente vá até ele e conte o que está acontecendo.

Ela foi e o pastor presidente disse que iria pensar no assunto e que em breve daria uma resposta.

Dois dias se passaram e o marido pastor foi chamado ao gabinete do presidente de uma grande igreja evangélica pentecostal.

Fulano pastor entende de Deus que você e sua família deveriam pastorear uma igreja a 500 km daqui. O fulano pastor todo feliz pegou sua esposa violentada e seus filhos e foram “pastorear” em um lugar longe dali e que não levantasse suspeitas. Em nenhum momento foi abordado ou tratado o assunto por eles.

Quando a pastora me telefonou dizendo o que tinha acontecido eu fiquei indignada e me pus à disposição e ela me perguntou novamente e agora? “Sabemos que não podemos decidir pela pessoa, disse que a minha preocupação era com a integridade física dela e aconselhei a denunciá-lo.”

5 - Como tem sido recebido o seu trabalho, através do Projeto Mulher Viva, nas igrejas pelos pastores e liderança? Há uma resistência e na sua opinião a que ela se deve?

Naiá Duarte: A Mulher Viva tem sido bem aceito por igrejas sérias na Palavra e que entendem que o pecado pode vir a transformar maridos que deveriam proteger suas esposas em verdadeiros lobos ferozes. Algumas igrejas onde o estudo da língua original e da história da igreja não é alvo de atenção a pregação é superficial, dominadora e excludente.

6 - Como é a reação das mulheres cristãs ao seu trabalho? Elas se sentem encorajadas a relatar as violências sofridas?

Naiá Duarte: A reação normalmente é positiva mais o fato de relatar a violência ocorre depois de um a dois meses da palestra proferida, ou seja, a vitima me liga ou manda um email querendo saber como ela pode orientar sua vizinha que sofre espancamentos. Oriento por telefone ou email e peço para marcar um encontro com a vitima e na maioria das vezes vem ela com a vizinha acompanhando.

7 - Você possui algum dado estatístico sobre a violência contra a mulher no meio evangélico?

Naiá Duarte: De acordo com a Casa de Isabel (ONG na zona leste da capital) 80 % das mulheres atendidas lá são evangélicas de igrejas neo-pentescostais, pentecostais e históricas.

8 - Você trabalha ou pretende trabalhar com a conscientização do homem cristão sobre a problemática da violência contra a mulher? Se trabalha como é ou seria desenvolvida essa abordagem?

Naiá Duarte: Não trabalho diretamente com o homem agressor mais encaminho se ele quiser para tratamento psicológico e espiritual. Entendo que o homem agressor precisa de tratamento e amor.

9 - Fale sobre o Projeto Mulher Viva. ( desde quando ele existe? como foi criado? qual objetivo? quais as ações e programas? quais as conquistas?...)

Naiá Duarte: O Projeto Mulher Viva nasceu no morro São Bento em Santos/SP por ocasião de uma palestra feita por mim sobre Direitos das Mulheres em 2007. Uma chama acendeu em mim e comecei a olhar para as mulheres com varias interrogações:

Por que a mulher aceita a violência?

Por que o púlpito é usado na maioria das vezes por homens?

Por que em casamentos aconselha-se a mulher a ser submissa e não aconselha o homem a amá-la e morrer por ela se necessário for. (efésios 5:22-30)

E após esses questionamentos criei junto com meu esposo advogado e pastor Cícero Duarte o Mulher Viva que tem como objetivo que toda mulher viva sem violência. Trabalhamos com a conscientização e prevenção da violência através de palestras, fóruns e oficinas. Ano passado (2009) atendemos 28 mulheres e alcançamos um publico de mais de 7000 pessoas.

Nossa meta para 2010 é atender 100 mulheres e firmar parcerias com objetivo de servir melhor a mulher vitimada.

10 - Qual a sua opinião sobre a utilização dos blogs como ferramenta de atuação na luta contra toda e qualquer violência contra a mulher?

Naiá Duarte: Esperança

11 - Deixa a sua mensagem para os leitores do blog "O grito de Ana" sobre essa atrocidade que é a violência contra a mulher praticada no mundo.

Naiá Duarte: Não podemos nos conformar com qualquer forma de violência contra qualquer pessoa, precisamos nos apoiar e lutar pelo direito a vida e ao amor, somente quando entendemos que a vida é o bem mais precioso que temos e que não podemos dispor dela porque esta é uma prerrogativa do altíssimo, compreenderemos que somos nós que devemos lutar pela vida e proteger nossa integridade; tendo como paradigma Jesus Cristo que rompeu a Lei do Silêncio denunciando e permitindo que suas discípulas estudassem, evangelizassem pregasse, ou seja, que pudessem exercer seus dons de uma forma integral.

FONTE: 19/01/2010 - http://ogritodeana.blogspot.com/2010/01/entrevista-com-naia-duarte-projeto.html .

Nenhum comentário:

Postar um comentário